arquivo

Germens | Hugo Mund Jr.

A faísca de Hugo Mund Jr. (por sebastião g. branco)

A coletânea em formato de livro, Germens, apresenta estudos linguísticos de 1967 a 1977. É editado em pelo artista e foi impresso em Brasília. Esta obra exerce poder de gérmen, como um germinar gráfico por meio de imagens, projetos, gráficos, poemas e textos. Estudos desse livro desdobram-se em outros formatos como é o caso de paisagem, janela, casa, paisagem que é refeito em Palavra e Cor.

Os micro signos semi-circulares de Neide Sá estão em Germens, as fotos datadas de Wlademir Dias Pino e as repetições de seis quadrados com balões de Álvaro de Sá também estão. O que difere é a narrativa, a informação a ser comunicada, como uma legenda da forma, um gérmen. Neide assina, enquadra e usa papel transparente dentro do programa instaurado em A ave. Mund insiste no papel fosco e ensina a preencher os campos vazios. Seria este a faísca e não o fogo?

Aprende-se muito com a vida e na prática do dia-a-dia pensando e desenhando. Sempre gostei do desenho, de linha, do traço, da mancha, da expressão que brota no papel – a mão ligada a mente. Dois pontos de referência na minha formação: o gravador Oswaldo Goeldi, com quem aprendi a consciência do ver na obra (período de 58 a 60) e o arquiteto Alcides da Rocha Miranda, com quem trabalhei intensamente entre 62 e 64 e a consciência do ver se expandiu para o todo. A partir de 64, ocupei-me com a problemática da linguagem visual, (indiscernível), é a função do criador na captação e transmissão das coisas através da imagem: o que ver e o que transmitir. Foram anos de intensa observação, introspecção e análise (64 a 67). […] ora, minha área de atuação como artista é predominantemente visual. Portanto, é nela que deveria estar a solução e isto ocorreu por volta de 67. quando produzi três obras básicas: o livro “gráficos”, onde as imagens pretendem contar uma história, o livro “percepção”, um ensaio de relacionamento entre palavra e desenho e o poema gráfico “Guerra e paz”, o indicador real de todo trabalho posterior até o momento (77). […] Como objetivos pessoais indico os seguintes: 1. Dizer muito com pouco […] 2. Possibilitar o máximo de participação do leitor: versão, tradução, interpretação. 3. Não dar o fogo, mas a faísca. 4. Destinar-se a compreensão universal. 5. Registrar a essência e não o supérfluo. 6. Evitar o confessionário, o ideológico e o sentimental em benefício do máximo rendimento. 7. Ser o (in) visível. 8. Fazer com que o olho cumpra sua função reflexível. 9. Adotar uma posição construtiva diante da realidade. 10. Abrir possibilidades de entendimento visual entre os seres em todos os lugares, níveis e épocas. 11. Estabelecer no homem o caminho de sua totalidade como Ser no universo.

Nesse recorte de jornal incompleto Hugo Mund sugere seu programa:

Não dar o fogo, mas a faísca. A nota exibe suas referências, os períodos e as conquistas que o fizeram produzir o que produziu em termos de linguagem visual. Mund escreve em 1977, ano de lançamento de Germens, e expõe os gestos tanto de ilustrador como de editor. A influência de Goeldi e Alcides retornam, outros nomes são elencados, sempre vinculados ao que produz. Também revela o sentido que atribui aos trabalhos individualmente, próximo do que chegamos aqui.

Por último Amir Brito Cadôr escreve que: Germens revela uma espécie de manual do poema/processo. Alguns trabalhos são como diagramas para outros no livro, fora da sequência, como é o caso de matriz para um poema. Para Amir os projetos ligações, matriz para um poema, são as matrizes de constelação, onde os gráficos isolados não formam um argumento, mas a justaposição deles em um livro estimula a comparação, e sua disposição um ao lado do outro, relaciona semanticamente por uma lógica da atribuição.