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Brancos | Ricardo Aleixo

No oco, no fundo do vão da orelha* (por telma scherer)

Ricardo Aleixo é, portanto, o artista alquímico, o experimentador atento, o observador ativo. Ele devolve a poesia ao poético, reatualiza o rito, e é também investigador. Aquele que cria e recria seu método de trabalho através da relação com o outro: tanto o outro do público que o acompanha quanto o outro das matérias novas que ele explora: bola de futebol, música, dança, tecido, pincel, editor de vídeo, microfone, software de composição gráfica, pedal com efeitos, e por aí adiante.

(…)

E, apesar da singularidade de sua criação, sua postura ressoa um conjunto de pressupostos com os quais teve de lidar toda uma geração (várias gerações) de poetas brasileiros. Aleixo, de modo especial, porém não isolado, vem fundir as mitopoéticas, a tradição oral que é brasileira, indígena e africana, que é regional e que é do mundo, com a teoria e a leitura intensa da poesia concreta. Não se isenta do estudo diligente tanto da obra quanto dos ensaios críticos da tríade concretista, com especial fascínio pela obra de Augusto de Campos. Trata de proporcionar a herança do paideuma concreto (e se apodera dessas referências com impecável dedicação) com a fala da rua.

Traz para o ambiente do concretismo a fortuna das manifestações ligadas às tradições ancestrais: faz a poesia retornar à fala, misturar-se à vida, atendendo ao pedido de Eliot: “A música da poesia deve ser, portanto, a música latente na fala comum de sua época. E isso significa também que ela deve estar latente na fala comum da região

do poeta.” Aleixo fala um concretismo “pretoguês”. O trânsito que se concretiza na sua poesia cruza as fronteiras do erudito e do popular tanto quanto as do presente e do ancestral, as da poesia e das outras artes, as do experimentalismo e da perpetuação.

*trecho da tese de doutorado